O assassinato brutal de Marielle Franco tornou-se um símbolo internacional da luta pelos direitos humanos.

Marielle Franco: quem era a vereadora e quem mandou matá-la

A vereadora Marielle Franco, do Psol, foi assassinada a tiros em 2018 e tornou um símbolo da luta pelos direitos humanos

O assassinato brutal de Marielle Franco tornou-se um símbolo internacional da luta pelos direitos humanos.

O caso Marielle

Parte 33

Marielle Franco virou um símbolo internacional após seu assassinato no dia 14 de março de 2018. Com os olhos do mundo no Rio de Janeiro, todos estão perguntando: #QuemMandouMatarMarielle? E por quê?


A vereadora Marielle Franco tinha 38 anos quando foi assassinada a tiros em uma emboscada no centro do Rio de Janeiro, na noite de 14 de março de 2018. No atentado, também morreu o motorista Anderson Gomes.

Investigações da Polícia Civil e do Ministério Público revelaram, um ano depois, que o autor dos disparos foi o ex-policial militar Ronnie Lessa. Ele negou a acusação. Em 23 de janeiro deste ano, o Intercept Brasil divulgou com exclusividade que Lessa fechou um acordo de delação premiada e apontou o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro,  Domingos Brazão, como um dos mandantes. Brazão nega qualquer envolvimento.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

Após o assassinato brutal, Marielle Franco tornou-se um símbolo internacional da luta pelos direitos humanos. Há quase seis anos, sua família, imprensa e investigadores buscam a resposta para a seguinte pergunta: quem mandou matar Marielle e por que?

Nesta página, você encontra todas nossas reportagens sobre o Caso Marielle.

Logo abaixo, eu respondo as principais perguntas relacionadas ao assunto.

– Quem era Marielle Franco?
– Quais eram as ideias políticas de Marielle?
– Quem era o motorista de Marielle?
– Como Marielle e Anderson foram assassinados?
– Quem matou Marielle e Anderson?
– Qual foi a arma usada no atentado?
– Quem mandou matar Marielle Franco?
– Qual a conexão da família Bolsonaro com o caso Marielle?

Em 2016, Marielle Franco eleita vereadora do Rio com 46.502 votos, a quinta maior votação daquela eleição. Foto: Mídia NINJA

Quem era Marielle Franco?

Marielle Franco era uma socióloga e ativista política que cresceu no Complexo da Maré, comunidade da zona norte do Rio de Janeiro. Filiada ao Psol, trabalhou por dez anos no gabinete do então deputado estadual Marcelo Freixo, hoje presidente da Embratur no governo Lula. Em 2016, foi eleita vereadora do Rio com 46.502 votos, a quinta maior votação daquela eleição. Ela tomou posse do cargo no ano seguinte.

Quais eram as ideias políticas de Marielle Franco?

Mulher negra, lgbt e mãe de uma adolescente, Marielle Franco era uma ativista feminista e defendia os direitos humanos. Em seu período como vereadora, presidiu a Comissão da Mulher da Câmara de Vereadores e, pouco antes de morrer, tinha sido escolhida para fazer parte da comissão criada para fiscalizar a intervenção federal no Rio de Janeiro.

A vereadora denunciou casos de abuso e violência policial contra moradores de favelas do Rio de Janeiro. E  também ajudou parentes de policiais militares assassinados.

Quem era o motorista de Marielle?

Anderson Gomes tinha 39 anos, quando foi assassinado com  três tiros nas costas. Ele trabalhava como motorista particular e também para aplicativos de transportes, como o Uber.

Anderson substituía o motorista oficial de Marielle Franco, afastado por causa de um acidente. Ele era casado, tinha um filho de dois anos e morava na zona norte do Rio de Janeiro.

Como Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados?

Marielle Franco e Anderson Gomes foram vítimas de uma emboscada no bairro do Estácio, no centro do Rio de Janeiro, na noite de 14 de março de 2018.

Algumas horas antes do crime, a vereadora participou de uma roda de conversas na Casa das Pretas, cujo tema era mulheres negras no poder.

Ao fim do encontro, ela entrou no banco traseiro do carro dirigido por Anderson Gomes, acompanhada pela assessora Fernanda Chaves. Marielle estava voltando para casa na Tijuca.

Em um outro carro, um Cobalt Prata clonado, estavam os assassinos, próximos do local do evento, aguardando a saída da vereadora. Exatamente neste momento eles começaram a perseguição.

Quando o carro onde estava Marielle parou em um sinal de trânsito na Rua Joaquim Palhares, o Cobalt prata emparelhou, o assassino abriu o vidro traseiro e disparou pelo menos 13 vezes. Marielle foi atingida por quatro tiros na cabeça. Anderson recebeu outros três tiros pelas costas. Fernanda foi atingida por estilhaços e foi a única a escapar com vida do atentado.

Quem matou Marielle Franco e Anderson Gomes?

A investigação da Polícia Civil e do Ministério Público apontou como assassino Ronnie Lessa, um ex-PM com passagem pelo Batalhão de Operações Especiais do Rio de Janeiro, o Bope. 

Ronnie Lessa é considerado um exímio atirador e ligado a integrantes do Escritório do Crime – nome dado a grupos de assassinos de aluguel formados por milicianos que atuam no Rio.

Ele já foi condenado por tráfico de armas. Lessa tem seu nome ligado ao jogo do bicho no Rio de Janeiro e ostenta um patrimônio acima de sua renda declarada.

Outro acusado é o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, que dirigiu o carro usado no atentado. Em 2023, Élcio firmou um acordo de delação premiada e confessou sua participação no crime. Em seu depoimento, ele confirmou Ronnie Lessa como o autor dos disparos. No fim de dezembro, Ronnie Lessa firmou seu próprio acordo de delação premiada com a PF e assumiu ter matado Marielle e Anderson.

Ronnie e Élcio estão presos no sistema penitenciário federal e aguardam julgamento por júri popular, ainda sem data marcada.

Qual foi a arma usada no atentado contra Marielle Franco?

A arma usada para matar Marielle e Anderson foi uma submetralhadora HK MP5, desviada do Bope do Rio de Janeiro. É de fabricação alemã.

A munição 9mm foi desviada de lote comprado pela Polícia Federal. A munição desse mesmo lote foi usada na maior chacina da história de São Paulo, quando 17 pessoas foram mortas em Osasco e Barueri, em agosto de 2015.

Ronnie Lessa fez um acordo de delação premiada com a PF e indicou Domingos Brazão como um dos mandantes do crime. Foto: Tércio Teixeira/Domingos Brazão

Quem mandou matar Marielle Franco?

Não há uma resposta oficial das autoridades para essa questão. Porém, quase seis anos depois do atentado, parece que a verdade está próxima de ser totalmente revelada. 

Acusado de atirar em Marielle e Anderson, Ronnie Lessa fez um acordo de delação premiada com a PF e indicou o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Domingos Brazão como um dos mandantes do crime. Um possível motivo seria a atuação de Marielle em questões fundiárias na zona oeste do Rio, que atrapalharia os negócios de milicianos. 

Cogita-se também a hipótese da morte de Marielle ter sido encomendada em razão de sua proximidade com Marcelo Freixo, com quem Brazão teve uma série de embates desde a CPI das Milícias, em 2008.

A delação de Lessa foi homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, em 19 de março deste ano. O caso chegou ao STF porque Lessa mencionou também um dos irmãos de Domingos, o deputado federal Chiquinho Brazão, do União Brasil, que tem foro privilegiado.

Domingos Brazão nega qualquer envolvimento no crime.

Qual é  a conexão da família Bolsonaro com o caso Marielle?

Até o momento, não há nenhum indício que membros da família Bolsonaro estejam ligados ao crime. Tanto que, após a divulgação exclusiva do Intercept de que Brazão foi apontado como um dos mandantes, o ex-presidente declarou se sentir “aliviado”.

As especulações a respeito do envolvimento dos Bolsonaro surgiram em outubro de 2019. Uma reportagem do Jornal Nacional mostrou que Lessa, o atirador, e Jair Bolsonaro eram vizinhos: ambos moravam no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca – Lessa na casa 65 e Bolsonaro na casa 58. 

Segundo depoimento de um dos porteiros, ao chegar ao condomínio, Élcio de Queiroz teria interfonado na casa do ex-presidente da República e “seu Jair” o teria liberado. Em fevereiro de 2020, um laudo da polícia civil fluminense concluiu que a voz não era de Bolsonaro, e sim do próprio Lessa autorizando a entrada de Élcio. Naquela tarde de 14 de março de 2018, quem trabalhava na portaria era outro funcionário. Em depoimento, ele confirmou à polícia que anotou equivocadamente o registro da visita de Élcio à casa 58, em vez de escrever o número 65.

Atualização: 20 de março, 8h44

Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, homologou a delação do ex-policial militar Ronnie Lessa.

S.O.S Intercept

Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?

Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?

O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.

O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.

Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.

Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?

Apoie o Intercept Hoje

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar